sábado, 9 de abril de 2011

Possessão (Possession)


O cinema é arte da ilusão. Os filmes nos levam a mundos totalmente fantásticos criando realidades que só encontravam lugar na imaginação humana. O cinema possibilita a visualização, a criação dessas novas realidades que vão além do nosso mundo físico explorando também o mundo abstrato dos sentimentos. É a magia do cinema.

Desde os primórdios, o cinema além de registrar a realidade, criava também novas. À medida que a linguagem do cinema evoluía os filmes passaram a expressar as relações humanas, sejam elas de forma direta ou metaforicamente. Imaginar torna-se um verbo imperativo no cinema.


Dentre essas características Possessão (1981) de Andrej Zulawski nos transporta a um mundo possível de vivenciá-lo nas telas do cinema. Um mundo no qual a lógica do mundo real não faz sentido.

Atualmente nos cinemas, Sucker Punch – Mundo Surreal brinca com esse jogo de espelhos onde o real e a imaginação se confundem. Mas no filme de Zack Snyder, a realidade e a imaginação são bem definidos pelas cores, pelos cenários e pelas situações surreais. Se a linha tênue entre a realidade concreta e a realidade abstrata podem ser percebidas em Sucker Punch, em Possessão, Zulawski nos confunde com suas metáforas e seus simbolismos.

Possessão nos proporciona mais do que acompanhar a trajetória de um casal em crise, nos joga de forma visceral nas angústias e desesperos vivenciados pelo par. Esse é a uma das linhas principais de Possessão. Uma viagem alucinante na complexidade das relações humanas.

Contar a história de um casal em crise no casamento pode ser abordada de diversas formas no cinema, seja num drama ou numa comédia romântica, mas Zulawski não quer apenas contar a história de um casal em crise, quer nos levar no interior perturbado dessas pessoas.

Para isso não basta apenas representar o mundo exterior em que vivem tais personagens, é preciso criar o mundo interior delas. Para um público acostumado com histórias lineares, onde as imagens evidenciam uma sequencia cronológica, numa primeira vista Possessão torna-se um filme difícil.

O filme se mostra confuso e surreal em diversos momentos nos fazendo pensar: “que loucura é essa!?”. No entanto é essa confusão de Possessão que o torna interessante.

O entendimento do filme vai além da contemplação das imagens, mas surge da reflexão delas. E não pensem que aqui está um total entendimento do filme – Possessão é um filme que merece e deve ser visto várias vezes – mas faço uma interpretação dessa primeira impressão provocada ao assisti-lo.

O que vemos não é a representação da nossa realidade palpável, mas a realidade abstrata dos sentimentos humanos que pela batuta de Zulawski pode ser visualizada.

Sam Neil e Isabelle Adjani interpretam um casal que vive as crises de uma separação, mas o que vemos nas imagens é a complexidade das reações provocadas por esse momento difícil. É a angustia do medo da solidão, do sentimento de ser traído, do desejo de ter um parceiro ideal, a luta por uma identidade própria, a busca da felicidade.

O que pode parecer exagero e surreal nas imagens faz todo sentido dentro daquilo proposto por Zulawski. Os personagens representam seus sentimentos, estes que provavelmente não estariam latentes se o diretor optasse por apenas contar a história de um casal em crise. O que às vezes não demonstramos em virtude de nossas máscaras sociais Zulawski nos leva a surrealidade dessas emoções, a uma nova realidade, onde o ser humano torna-se, literalmente, o monstro do ser humano.

Mas a discussão em torno de Possessão não se resume em apenas desnudar o drama vivenciado pelo casual, o filme nos possibilita outras discussões em torno de outros personagens como o filho do casal, também em torno do caráter político da época representado pela presença quase que constante do Muro de Berlim, mas por enquanto esta análise fica concentrada no tema humano, pois com certeza outras interpretações podem ser feitas quando se vê Possessão várias vezes, pois essa é certeza que Zulawski nos dá no final de seu filme, tudo pode ser visto – e vivenciado – outra vez.

Título Original: Possession
Gênero:
Drama, Suspense
Direção:
Andrzej Zulawski
Roteiro:
Andrzej Zulawski, Frederic Tuten
Produtores:
Marie-Laure Reyre

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