quarta-feira, 13 de abril de 2011

Festim Diabólico (Rope)


Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock, é um filme baseado na peça teatral de Patrick Hamilton e narra o desejo de dois jovens, Brandon (John Dall) e Philip (Farley Granger), de comprovarem através de um assassinato que são superiores a vítima, David, um colega de escola. E ainda resolvem convidar pessoas próximas a vitima e oferecem um jantar, servindo a comida em cima do baú onde está escondido o corpo de David. O filme, no entanto, mais do que um suspense tenso, desenvolve uma verdadeira dialética entre teoria e prática.

No filme vemos o debate em torno da teoria de Nietzsche do super-homem, no qual este representa o estágio final da evolução humana. Baseado nas teorias evolucionistas de Darwin, o filosofo alemão em Assim Falou Zaratustra procura mostrar que o super-homem é o tipo que se encontra acima dos homens normais.


O super-homem é aquele que transcende os valores do indivíduo comum e não sente qualquer sentimento de culpa ao demonstrar sua superioridade em suas ações mesmo que represente na destruição de outra pessoa. Dessa maneira, matar outro, como forma de demonstrar tal superioridade se encaixaria na definição do super-homem de Nietzsche.

Hitchcock não se prende em desenvolver no seu filme um mistério, logo de inicio sabemos quem morreu e quem matou e os motivos vão se definindo e ganhando forma à medida que os convidados vão chegando para o jantar e quando Brandon, através de ironias e sarcasmos, vai sorvendo cada momento do seu trunfo que faz sentir-lhe um ser superior. Mas Brandon não se satisfaz apenas em cometer o assassinato, ele tem que exibi-lo.

Dentre os convidados do festim diabólico desenvolvido por Brandon e Philip está o professor deles, Rupert (James Stewart), que num dos diálogos mais contundentes do filme nos mostra o quanto próximo de Nietzsche – e dos assassinos - está ao defender a teoria da superioridade na prática do assassinato. Os comentários frios não demonstram que o professor tenha algum remorso no que diz. E mais. Sua teoria parece ser compartilhada pela maioria dos convidados que reagem com complacência ao que o professor fala.

Defender uma ideia supõe também defender sua prática? Parece esse ser o mote de Festim Diabólico. Rupert passa a desconfiar do comportamento dos dois jovens que promoveram o encontro a ponto de questionar as atitudes suspeitas de Philip e retornar ao apartamento ao final do encontro. Mas as ideias defendidas pelo professor tornam-se uma assombração para ele quando percebe que elas foram postas em prática. Rupert fica chocado ao descobrir o corpo de David no baú e principalmente ao saber das justificativas dadas por Brandon ao ter cometido o assassinato. Brando defendia que eles estavam acima do “homem ordinário” e matar um representante desse grupo seria demonstrar tal superioridade. Rupert sente-se socado pelas suas ideias e abomina a ação de Brandon e Philip sentindo-se inferiorizado por perceber que na prática suas ideias tão bem defendidas eloquentemente algumas horas atrás o faz estar no mesmo nível de assassinos sem qualquer consideração e humanidade. Ironicamente é do “homem ordinário” que Rupert necessita para dar fim ao plano dos dois jovens ao disparar tiros pela janela que denunciam o crime cometido.

E toda essa trama é bem desenvolvida por Alfred Hitchcock que utiliza no seu primeiro filme colorido a técnica do plano seqüência que além de nos proporcionar momento a momento da ação, funciona também como uma forma de aumentar a tensão. A câmera de Hitchcock nos faz sentir como mais um dos convidados do encontro diabólico nos colocando na situação de observadores passivos, pois em nenhum momento podemos acabar com aquela situação de angústia.

O filme ocorre todo dentro de um apartamento e ao utilizar do plano sequencia, Hitchcock corria o risco de transformar Festim Diabólico num teatro filmado, mas graças à experiência do diretor com a movimentação da câmera essa impressão não marca o filme.

A marcação do tempo é outro detalhe técnico que se destaca. Para dar a impressão de que a história se passa em uma tarde entrando pela noite, Alfred Hitchcock utiliza da arte de painéis colocados na ampla janela que caracteriza o apartamento. Com o passar do tempo e do movimento da câmera percebemos que as horas estão passando pela iluminação dos prédios representados nesses painéis.

O filme também se pauta nas atuações soberbas de John Dall, Farley Granger e James Stewart que captam tipos diferentes sem serem caricatos mostrando facetas que poderiam muito bem ser compartilhadas por quem assiste ao filme.

Um detalhe curioso a respeito de Festim Diabólico é que a peça teatral de Patrick Hamilton que serviu de base para o enredo do filme, baseava-se num fato real. Em 1924, Nathan Leopold e Richard Loeb, foram condenados a prisão perpetua nos EUA ao confessarem que mataram uma criança de 14 anos e esconderam o corpo na floresta apenas para terem a sensação de superioridade ao cometerem o “crime perfeito”. Assim como a teoria tornando-se prática, para quem desconhecia esse detalhe, a ficção torna-se realidade.



título original:Rope
gênero:Ficção
duração:1 hr 20 min
ano de lançamento: 1948
estúdio: Warner Bros. / Transatlantic Pictures
distribuidora: Warner Bros. / Universal Pictures
direção: Alfred Hitchcock
roteiro: Hume Cronyn e Arthur Laurents, baseado em peça de Patrick Hamilton
produção: Alfred Hitchcock e Sidney Bernstein
música: David Buttolph
fotografia: William V. Skall e Joseph A. Valentine
direção de arte: Perry Ferguson

Um comentário:

  1. filme perfeito, um de meus preferidos,
    grande hitchcock, grande stewart.

    estou seguindo-o, visite-me,
    abraços

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