Há uma diferença bem básica entre o filme de ficção e o filme documentário. A ficção recria uma realidade, o documentário a registra. Dessa forma, mesclar numa mesma imagem ficção e realidade parece impossível certo? Errado! O documentarista Eduardo Coutinho em seu Jogo de Cena nos leva além dessas definições.
A partir de um anúncio no jornal, mulheres dividem conosco as suas histórias. No estilo documental, elas se dirigem a um teatro e frente à câmera acabam dividindo com o público sua vida. No entanto esse padrão documental parece quebrar quando atrizes famosas são escaladas para representar a fala dessas mulheres.
Parece até fácil acompanhar o filme onde temos o depoimento real e depois a interpretação desse depoimento pela atriz. No entanto Eduardo Coutinho mais uma vez quebra nossas expectativas e confunde-nos, pois em determinado momento não sabemos quem está contando suas experiências e quem está representando. Isso serve para que no final das contas percebamos: esse jogo de cena é o que menos importa.
O que importa é embarcarmos nas histórias que essas mulheres contam. Jogo de Cena nos mostra um retrato dos desejos e angústias do universo feminino, mas são sentimentos tão universais como amor, fé, sucesso, arrependimento que farão também os homens a se identificar de alguma forma com essas histórias.
A identificação com esses depoimentos é essencial quando percebemos a função de atrizes como Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra no filme. Elas não estão ali apenas para representar, mas também para compartilhar conosco suas experiências de vivenciar os depoimentos que as tocam profundamente. A presença delas no filme fica claro quando, ao conversarem com Coutinho, mostram a dificuldade de lidar com o texto por não conseguirem deixar-se envolver visceralmente pelas histórias representadas. Elas se vêm na vida dessas mulheres, assim como o público acaba se tornando o personagem também, através da identificação.
Eduardo Coutinho com seu Jogo de Cena quebra as amarras tradicionais do filme documentário, afinal o filme explora a linha tênue entre a ficção e a realidade, pois em determinados momentos não sabemos se alguém está dando seu depoimento real ou se está apenas representando esse depoimento. Mas chegamos à conclusão de que isso menos importa. Acreditamos nas histórias que, independentemente de quem conta, carrega o toque real e ficcional nos mostrando que a vida nada difere do que está representado na tela, pois percebam, no filme, estamos no palco e não na platéia.
título original:Jogo de Cena
gênero:Documentário
duração:1 hr 45 min
ano de lançamento: 2007
estúdio: Videofilmes / Matizar
distribuidora: Videofilmes
direção: Eduardo Coutinho
roteiro: Raquel Freire Zangrandi e Bia Almeida
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